PRESENÇAS

Instalação sonora

“Presenças” é uma obra musical interativa que foi nascendo em meio ao caos pandêmico. É, carinhosamente, a esquizofrenia sonora da compositora que se propôs a pesquisar sobre interatividade em um cenário de isolamento mundial. Principalmente, “Presenças” foi germinada pela curiosidade de investigar a possibilidade de se trabalhar uma interatividade sem imposições e obrigatoriedade ao interator, uma interatividade não-literal, uma interatividade que não dê uma falsa liberdade para quem a vive. “Presenças” é uma obra que nasce da vivência de um interator emancipado de modo que sua atmosfera sonora vai se construindo e se moldando de acordo com comportamentos corpóreos, sejam eles de movimento ou de estaticidade. É uma obra empática que acolhe e aceita a presença do interator em seu espaço do jeito como ela é, respeitando a vontade e o processo de percepção-ação.

A sonoridade da obra foi arquitetada em camadas de síntese e processamento de materiais sonoros pré-gravados e captados em tempo real do próprio ambiente, que se modificam no tempo em razão dos interatores. Uma câmera é utilizada como sensor de movimento, controlando e engatilhando disparos e manipulações sonoras equivalentes às ações ocorridas no espaço da obra. Esses movimentos são armazenados na própria peça e reproduzidos de modo a criar uma história de interações que o público possa reconhecer e se ver como parte integrante da instalação. É o que chamamos de “rastros sonoros de presenças”, pois cada interator gera um comportamento sonoro na obra de acordo com sua particularidade de comportamento. Esses rastros vão se juntando e, também, se dissolvendo com o passar do tempo da obra, se acomodando em uma sonoridade equivalente com a do espaço em que a instalação se situa. Conforme a diminuição da atividade dos interatores, a obra apaga as presenças que a interferiram, fazendo com que, caso algum interator volte a revisitar a obra, encontre uma camada sonora divergente da que já ouviu, reforçando o caráter estético de uma obra que acontece e se transforma no tempo pela amálgama de rastros sonoros diversos que a obra vive.

Sua primeira montagem (fase de teste que chamamos de “imersão I”) ocorreu no dia 29/07/22 no espaço teatral Solagasta. O resultado na prática foi ao encontro do que pretendíamos teoricamente e esteticamente: a obra mostrou-se um espaço de relações dinâmicas, incorporadas e enativas, um espaço de emergências de affordances criados em seu site-specific pela relação ecológica e incorporada entre ela e interatores. Um exemplo disso, e uma das coisas que mais nos surpreendeu em sua primeira montagem, foi que a obra causou uma vontade no interator de ficar estático para ouvir o comportamento mutante da obra (que ele mesmo criou) que, por consequência, também ia se aquietando sonoramente.  Uma obra interativa que possibilitou o interator a perceber suas transformações estando…parado! Só existindo no ambiente! Estando livre da obrigatoriedade de interagir reativamente com a obra em uma relação momentânea e literal. Será que encontramos e presenciamos uma interação ecológica?

Criadores: Camila de Souza e Rael Toffolo

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